"Deixa ir"
110cmx105cm
Oleos sobre tela

 Este romance pode ser lido simplesmente como uma história no decurso da qual o leitor pode saltar passagens, mas que desfrutará muito mais se o não fizer. Pode ser considerado como uma espécie de sinfonia, como uma ópera, ou como um filme de cowboys. Eu quis fazer música hot, um poema, uma canção, uma tragédia, uma comédia, uma farsa, e assim sucessivamente. É superficial, profundo, distraído, pesado, segundo os gostos de cada um. É uma profecia, uma advertência política, um criptograma, um filme cómico, um absurdo, uma frase escrita na parede. Pode ser considerado uma espécie de máquina: funciona, acredite, descobri-o à minha custa(...)
( Malcolm Lowry, a propósito de Debaixo do Vulcão).

Um livro (dois para sermos exactos,mas escolhemos ler um como força motriz do nosso olhar),uma tela. Um livro que é uma barriga de um romance, um épico a desafiar Ulisses,a convocar Joyce. Vulcões e abelhas,juntos de mulheres que uivam. Um calor dos infernos: a alma arde, Susana? Talvez não. Talvez dance em contra-tempo como esta aqui,no canto da tela, e dela saiam ramos,redes, intersecções. Um romance pode engendrar um mundo? E multiplicar-se, uma e outra vez ,em prismas,em santos e abelhas,e passos que precipitam beijos, Susana? Fios: os fios (que outros transformaram em redes) são desvios, direcções,hipóteses de caminho. Por vezes,a vida é uma queda contínua,dantesca, de socalco em socalco, como sabiam Malcolm e Dante, e Hemingway e Bukowski,e Frida. Mas pelo meio há abelhas,e tequilha,e mezcal,e passos-un,dos,tres,-e cordeís, e amantes sem nome,ou amantes que geram romances,como recorda a Susana Bravo,neste quadro.
Renata Portas

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